tive algumas razões para evitar estar como estou, mas sempre estou. enrolo os lençóis da cama no pescoço e fico encarando o teto. o calor é desagradável e os dias quentes açoitam noite adentro. no escuro, imagino meu quarto não sendo o mesmo quando acendo a luz. escuto os cachorros dos vizinhos avisando para a rua vazia quem manda naquele pequeno reino. nem o silêncio é capaz de me manter companhia. não quero fazer disso um lamento ou reclamar de como as coisas estão mais do que gostaria que estivessem. não é desse tipo de exagero que estou falando. é mais um scape! uma fuga… onde o fluxo natural das coisas podem ser contrárias as opiniões de quem vê. e não poderá haver momento mais precioso que esse. neste mesmo instante, será impossível entender que a palavra fluxo é a mais bonita da língua portuguesa e que, por outro lado, já esgotamos sua substância, sem que a mesma pudesse se defender. o fluxo está vazio, estagnado e preso sob nossas veias entupidas. o oco que a américa representa. o oco que o latino brasileiro apresenta. nós sustentamos identidades falsas. queria que a mãe nos deserdasse. o que significa ser e estar aqui? queria olhar o céu cheio de estrelas, em algum lugar onde o fuso horário não pudesse contar. valer. ser não-realidade. onde o tempo é reinventado e os calendários nunca são oficiais. no japão as eras se estendem e se sustentam em um sopro breve e humano. império gengō e templos extra-corpóreos. se meu corpo não fosse físico, quem eu iria visitar? prometi gozar com muitas pessoas, em lugares distantes e sou horrível com promessas. pareceu tão certo negar um “eu te amo”. em nenhuma das vezes em que nos habitamos fui capaz de ti dizer, por mais que eu sentisse seus dedos grossos na minha costela e isso parecesse amor, que este era o seu presente e meu fardo. não pude falar porque o volume das palavras é traiçoeiro ao produzir verdades dolorosas. isso não faz do calar-se uma mentira.
mas foi poderoso demais te dizer não, silenciar, ir embora e não estar mais apaixonado o suficiente.
