Dean
2 min readMay 18, 2024

mishima, quando a pulsão incontrolável de ter carícias com algum homem brotasse, tudo o que desejaria, naquela época, era reciprocidade.
queria que ao levantar da cama seu corpo débil e fraco tivesse braços fortes te envolvendo por inteiro, para te apoiar.
das axilas peludas e bem desenhadas, impregnadas pelo suor noturno, brotasse um cheiro tão específico e sedutor que sairia dali a totalidade de sua volúpia.
não poderia haver, então, aversão ao ficar de quatro e se sentir invadido pelo imenso membro do seu companheiro.
a atraente figura lânguida de são sebastião, as imponentes estátuas jônicas, os pobres trabalhadores descamisados seriam apenas marcadores de quando você soube e nada mais.
os diálogos internos, a capacidade de fingir ser uma coisa que você não é ou receio de viver sem máscaras nunca teriam virado sequer a esquina do seu cérebro.
você não iria se submeter a morte digna de um samurai porque culturalmente achou que estava do outro lado e, portanto, era um invertido.
conquanto, não tenho pena que você tenha escolhido tamanha solidão ao viver secretamente a degeneração que todos nós devemos passar orgulhosos.
viver não promete recompensas por bom comportamento ou mau ou indiferente. viver por si só é escolher não morrer.
a indefinição das coisas, a aleatoriedade das relações, as paisagens externas e internas não importariam tanto.
você poderia ser livre da família sufocante, da solidão infligida, da incapacidade de gostar por gostar.
em retrospecto, queria que você pudesse ter chupado a mais grossa das rolas no capricho do tesão, sem culpa.

Dean
Dean

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