algumas tragédias são poéticas. a morte é irresponsável e a dor é a mais antiga força instintiva a nos mover. da paixão que impulsiona ao absoluto tédio. o desejo tem seus freios graças ao medo. medo do excesso, da afeição, da completa irrealidade, da dor. engatar enlaces amorosos agora me soa estúpido. amor como se vê em filmes, séries, novelas e livros são instâncias inalcançáveis, e qualquer um deveria se ver livre dos seus pesos e obrigações. tentar viver sob essa marca me fez perceber o quão dolorosa é a metáfora do ideal. meus pais me ensinaram que o amor é uma guerra. tudo é bélico. penso nas incontáveis vezes em que e que eles se machucaram. eles se odeiam. se odeiam porque só tem um ao outro. 33 anos juntos. por isso se amam. eles já desistiram. é mais fácil ficar. trocar a solidão por pequenos conflitos. eu e meus irmãos somos marcas vivas do erro dos dois, e de seus acertos também. agora sexo é uma outra história. lembro do cara que dava para mim, sem qualquer cerimônia. eu pedia e ele dava. um espectro de poder que eu certamente nunca havia experimentado antes. se você parar para pensar, é tão animalesco, quanto violento, entregar nosso corpo para um outro alguém. penso que se algo nos pertence, sem sombra de dúvidas, é o corpo, ao mesmo tempo que duvido que realmente tenhamos algo só nosso. em todo caso, nós idolatramos os corpos e os reconhecemos ou excluímos através dos signos que eles carregam, do que podem performar, da maneira que se adornam e daquilo que odeiam. a hierarquia que vez ou outra nos encontra e nos mostra em qual lugar estamos e podemos desempenhar. construto sociais, viés sociológico, políticas públicas e genocidas, travestis assassinadas e aulas na faculdade particular. quero viver com o mínimo de máximas possíveis enquanto engulo o mundo com os olhos. experimentar meus desejos iguais as palavras que me fogem e só voltam a noite, quando estou com muito sono e preciso dormir. dor nas costas, dor causada pelas incertezas e toda dor que ainda irei sentir. dor e amor tem as mesmas terminações na nossa língua. receio que elas sejam construtos universais indispensáveis. nenhuma dor é para sempre. vou amar quando estiver apto para calcular toda dor que sentirei pela frente. quando tudo isso cessar estarei em paz ao passo de que não restará mais nada. nem mesmo a dor.